Um pastor brasileiro, que pregava a Bíblia no Muro das Lamentações, foi expulso por judeus do local sagrado, em Israel. O vídeo do momento foi compartilhado pelo pastor Alan Chaves nas redes sociais no último domingo (23). Nas imagens, ele é rodeado por crianças judias que cantam em hebraico “O povo de Israel vive”. Após a repercussão do episódio, uma discussão sobre liberdade religiosa e evangelismo em Israel começou na web. “Muitas pessoas estão utilizando esse vídeo como uma suposta evidência de que em Israel existe intolerância religiosa e que os evangélicos não seriam bem-vindos no país. A realidade, porém, é completamente diferente”, afirmou o cientista político cristão, Igor Sabino, em vídeo no Instagram. E explicou: “Embora Israel seja um Estado judeu, é o lar também de vários outros grupos étnicos-religiosos, principalmente cristãos e muçulmanos. Por isso, para assegurar que todos eles tenham a sua liberdade religiosa respeitada, principalmente em Jerusalém, há lugares sagrados para as três religiões monoteístas. Há regras de conduta muito específicas para cada um desses locais, no Muro das Lamentações e na mesquita Al-Aqsa, que fica no Monte do Templo”. Segundo Sabino, o evangelismo em Israel não é proibido, mas não pode acontecer de qualquer maneira. “Não se pode, por exemplo, fazer proselitismo religioso para pessoas menores de 18 anos. Israel é o único país no Oriente Médio em que a liberdade religiosa é assegurada por lei”, comentou. Desrespeito ao local de culto judeu O rabino Rogério Cukierman esclareceu que a atitude do pastor Alan foi ofensiva para os judeus. De acordo com ele, o pastor estava em um espaço de culto judeu e não se deve confungir a permissão para pessoas de outras religiões visitarem o Muro com a autorização para realizar uma atividade religiosa de outra crença. “Quem quiser ir visitar o Muro das Lamentações precisa respeitar as regras daquele lugar. Alguém ir a uma igreja católica, fazer uma pregação evangélica anticatólica, uma pregação judaica, ou uma pregação muçulmana, não parece ser uma abordagem correta, ao contrário, é uma atitude ofensiva”, disse o rabino, em entrevista ao UOL. De acordo com Rogério, o pastor poderia ter procurado grupos judaicos envolvidos no diálogo inter-religioso, onde conversariam em outro espaço. Confusão André Daniel Reinke, historiador e doutor em teologia com ênfase em história das teologias e religiões, concordo como rabino. Para ele, há uma confusão de que a liberdade de pregação em espaço público acontece em Israel da mesma forma como no Brasil. “A praça, no Brasil, é um lugar laico, onde cada um pode apresentar seus pontos de vista, sejam religiosos ou não. Mas o Muro Ocidental, ou Muro das Lamentações, é um lugar levado em alta conta porque é ali que os judeus ortodoxos agradecem pela retomada de Jerusalém e oram voltados para o que seria o antigo Santo dos Santos do templo de Herodes”, afirmou Reinke. “Abrir a Bíblia cristã e pregar o Messias que o judaísmo rejeitou não é evangelizar, é um ato de provocação. Seria como um rabino ir à Basílica do Santo Sepulcro e começar a gritar que Jesus nunca ressuscitou”, explicou. O historiador ainda observou que o pastor Alan Chaves cometeu uma infração enquanto pregava. “Havia crianças entre os judeus e a lei israelense proíbe o proselitismo de menores de 18 anos. Ele poderia ser deportado por ter feito aquilo”, disse.
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